Motivação

Trecho extraído da carta de Imre Simon à banca examinadora do TCC de Tássia Camões, em dezembro de 2006.

"Eu descobri este algoritmo em 2002, mais ou menos por acaso, premido por uma necessidade pessoal de poder backupear melhor os meus próprios dados. Preciso acrescentar que eu tenho uma ansiedade quase histérica a este respeito. Vou tentar explicar. Eu comecei a programar o computador em 1962, pouco mais de 44 anos atrás. Tudo que fiz na primeira metade, até 1984, está mais ou menos perdido, pelo menos nos detalhes. Não possuo nada daquilo numa forma digital e que seja acessível hoje, possuo algumas coisas em papel ou em fita magnética (daquelas de 600 pés, que nem podem mais ser lidas hoje).

Mas, muita coisa que gostaria de ter está irremediavelmente perdido. Entre estas coisas tem duas que eu gostaria de ter em particular: o primeiro programa que escrevi, com Tomasz Kowaltowski, em linguagem de máquina e que jogava o jogo de Nim, popularizado na época pelo filme "O ano passado em Marienbad" que fez época por si mesmo. O programa mantinha até uma "conversação" em múltiplas línguas com o jogador. O outro é o programa mais complexo que jamais escrevi até hoje, os Números Índices que foi um programa que contribuiu, num primeiro momento e do ponto de vista tecnológico, à implantação do assim chamado "milagre econômico brasileiro". Este programa foi uma grande inovação no cálculo e acompanhamento da inflação: passou-se de uma sistemática manual, demoradíssima para outra totalmente automatizada, instantânea. O programa foi encomendado por uma equipe do ministro Delfim Netto em 1967, liderada por dois professores da FEA-USP, e coube a mim a elaboração e acompanhamento da execução semanal do programa. A dificuldade veio de que o único computador disponível para a tarefa, o IBM 1620 da USP, tinha um total de 20 mil posições decimais de memória, equivalentes a 12 mil bytes. Isto colocava restrições muito pesadas sobre o programa que tinha muitos cálculos estatísticos mas mesmo assim consegui realizá-lo, após muito trabalho, mais ou menos nas condições em que a Tássia trabalhou neste TCC: dia e noite, concentração total, etc.

Já no que se refere à segunda metade da minha existência digital, isto é, desde 1985, data em que comprei o meu primeiro computador pessoal, eu tenho absolutamente tudo preservado, um tanto bagunçado mas acessível e legível no disco magnético do meu laptop atual, o sarah, que me acompanha ligado e atento a praticamente qualquer lugar. Bem, esta em si é uma história longa que não vou contar aqui, basta dizer que não tenho e nunca tive nenhum arquivo em Word 2, só para dizer um formato muito popular, totalmente inacessível hoje em dia. Resumindo: eu sou um arquivador nato e tenho um medo enorme de perder o que já fiz e arquivei. Esta foi a motivação para escrever e operar o BRF para mim mesmo."